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Das academias para os cemitérios: ‘É com profundo pesar que comunicamos o falecimento’

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Academias: quando o limite se torna perigo de morte

Ivan Rocha

A busca incessante por um “corpo perfeito” tem transformado academias em cenários de tragédias evitáveis. Mais do que meros espaços para exercícios, esses locais, impulsionados por uma cultura de superação irrefletida, têm se tornado palco para incidentes fatais, como o recente óbito de Francisco José e Alves da Silva Júnior, um policial civil de 47 anos, na academia B7 em Maraponga, Ceará. O caso, de parada cardíaca após um treino, serve como um alerta contundente sobre os perigos de ignorar os limites fisiológicos e os sinais que nosso corpo emite.

A complexa orquestra do corpo: o que a ciência nos diz

A fisiologia humana é uma orquestra complexa, onde cada órgão desempenha um papel vital e interligado. O coração, os pulmões, os rins e o fígado não funcionam isoladamente; suas funções são uníssimas e interdependentes. Quando submetemos o corpo a um estresse excessivo, como treinos exaustivos sem acompanhamento adequado ou, pior ainda, o uso de substâncias ilícitas, todo esse delicado equilíbrio é comprometido.

Do ponto de vista científico, um treino intenso e mal planejado pode levar a uma série de eventos fisiológicos perigosos:

Estresse cardiovascular: o coração, um músculo, é forçado a bombear sangue em uma velocidade e pressão elevadas. Em indivíduos com condições cardíacas preexistentes (muitas vezes assintomáticas) ou naqueles que se exercitam além de sua capacidade, isso pode desencadear arritmias, isquemia e, em casos extremos, uma parada cardíaca súbita, como provavelmente ocorreu com Francisco José.

  • Desequilíbrio Eletrolítico: a transpiração excessiva sem a devida reposição de líquidos e eletrólitos (como sódio e potássio) pode levar a desidratação severa e disfunções renais e cardíacas.
  • Rabdomiólise: o esforço muscular extremo pode causar a quebra de fibras musculares, liberando proteínas na corrente sanguínea que podem sobrecarregar os rins, levando à insuficiência renal aguda.
  • Comprometimento do sistema imunológico: o overtraining crônico debilita o sistema imunológico, tornando o corpo mais suscetível a infecções e inflamações.
  • A sombra dos anabolizantes: um atalho fatal para o “corpo perfeito”

A busca por resultados rápidos e uma estética idealizada tem impulsionado o uso indiscriminado de anabolizantes esteroides. Essas substâncias, apesar de promoverem o aumento da massa muscular, causam danos devastadores aos órgãos vitais.

O fígado é um dos primeiros a ser afetado, com risco de hepatite e tumores. O sistema cardiovascular sofre sobrecarga, elevando a pressão arterial e o colesterol “ruim”, aumentando significativamente o risco de infarto e AVC. Os rins também são comprometidos, e o desequilíbrio hormonal pode gerar problemas reprodutivos e psicológicos graves.

Fisiculturista conhecida como Mulher Hulk.
Paciente afirma que já tomou anabolizantes prescritos pelo médico fisiculturista que morreu aos 33 anos após hemorragia no fígado.
Rodolfo Duarte Ribeiro dos Santos, morreu aos 33 anos.

Atletas que recorrem a essas drogas exemplificam o perigo por trás da obsessão pelo corpo perfeito. Muitos, na ânsia de atingir um padrão irreal de beleza e performance, sacrificam a própria saúde, resultando em sequelas permanentes ou, tragically, a morte prematura.

O cenário atual das academias

A realidade atual das academias muitas vezes reflete uma preocupante lacuna entre a ambição estética e a segurança fisiológica. A falta de uma avaliação médica rigorosa antes de iniciar ou intensificar os treinos, a ausência de acompanhamento profissional constante e a pressão social por resultados rápidos criam um ambiente propício a acidentes.

É fundamental que haja uma maior conscientização por parte dos frequentadores e das próprias academias. Antes de iniciar qualquer rotina de exercícios, é imperativo:

Realizar um check-up médico completo: Avaliar a saúde cardiovascular, a função renal, hepática e identificar quaisquer condições preexistentes.

Contar com orientação profissional qualificada: Treinadores físicos capacitados podem elaborar programas de treino individualizados, considerando a condição física, os objetivos e, principalmente, os limites de cada indivíduo.

Respeitar os limites do corpo: entender que o progresso é gradual e que a dor não é sinônimo de resultado. O descanso e a recuperação são tão importantes quanto o próprio treino.

Hidratação e nutrição adequadas: essenciais para o bom funcionamento do corpo e para a recuperação muscular.

Dizer não aos anabolizantes: buscar atalhos com substâncias ilícitas é um caminho perigoso e sem volta para a saúde.

A tragédia na academia B7 serve como um doloroso lembrete de que a saúde é o bem mais precioso. Que este evento trágico acenda a luz da conscientização, transformando a busca pelo bem-estar físico em um caminho de respeito ao corpo e à ciência, onde a vida e a segurança sejam sempre a prioridade.

Fonte: Em Defesa da Saúde

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