No DF, só 29,9% dos meninos foram vacinados entre 2017 e 2023. Nos EUA, falta de imunização no passado agora impacta mulheres acima dos 65 anos com aumento de casos de câncer anal

Uma das infecções sexualmente transmissíveis mais comuns do mundo, o HPV [papilomavírus humano] continua desafiando políticas públicas de saúde. No Brasil, a cobertura vacinal segue aquém do ideal, especialmente entre adolescentes do sexo masculino. Nos Estados Unidos, cresce o número de diagnósticos de câncer anal entre mulheres mais velhas, grupo que ficou fora da recomendação de vacinação quando o imunizante começou a ser aplicado.
No Distrito Federal, mesmo com o pioneirismo na adoção da vacina antes da inclusão no calendário nacional, os dados ainda preocupam. De 2013 a 2023, 59,4% das meninas de 9 a 14 anos receberam o esquema completo. Já entre os meninos, que passaram a ser incluídos na campanha em 2017, o índice foi de apenas 29,9%.
“A melhor forma de prevenção é a vacina. Estudos indicam que entre 50% e 60% da população terá contato com o HPV ao longo da vida”, alerta uma especialista da área.
A vacina contra o HPV está disponível gratuitamente nas Unidades Básicas de Saúde [UBS] para meninos e meninas de 9 a 14 anos, 11 meses e 29 dias, em dose única. Também é indicada para pessoas de 15 a 45 anos que utilizam a profilaxia pré-exposição [PrEP] ao HIV ou que apresentem condições clínicas especiais — nesses casos, é preciso procurar um Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais [CRIE].
Câncer anal avança nos EUA entre mulheres fora do grupo de risco
Nos Estados Unidos, o cenário revela outra face do problema: um aumento expressivo nos casos de câncer anal, especialmente entre mulheres brancas e hispânicas acima dos 65 anos — faixa etária que, à época da introdução da vacina, não era contemplada pelas diretrizes de imunização.
Um estudo baseado em dados do Instituto Nacional do Câncer (2017-2021) revelou que os casos cresceram 4,3% entre mulheres brancas e 1,7% entre mulheres hispânicas. Em 2021, a taxa chegou a 11,4 casos por 100 mil pessoas para mulheres brancas dessa faixa etária.
A explicação pode estar na ausência de vacinação no passado, conforme aponta a Dra. Ashley Robinson, médica residente do Advocate Lutheran General Hospital:
“Essas mulheres estavam fora da idade recomendada quando a vacina se tornou amplamente disponível. Isso pode ter deixado esse grupo mais vulnerável à infecção.”
Cerca de 90% dos casos de câncer anal estão relacionados ao HPV, e a infecção é, muitas vezes, assintomática. O vírus pode permanecer no organismo durante anos, até provocar alterações celulares que evoluem para diferentes tipos de câncer, incluindo os de ânus, colo do útero, pênis e garganta.
Prevenção ainda é a melhor resposta
Apesar de raro, o câncer anal vem crescendo nos EUA e, segundo a Sociedade Americana do Câncer, deve atingir 10.930 pessoas e causar 2.030 mortes apenas em 2025. Se detectado precocemente, a taxa de sobrevida em cinco anos pode chegar a 83%. Mas cai para 36% quando já há metástase.
“Precisamos promover a vacinação contra o HPV como ferramenta essencial de prevenção e adaptar os protocolos de rastreamento aos novos grupos de risco”, reforça Robinson.
A vacina é considerada segura e altamente eficaz, mas nos EUA ela só é gratuita até os 26 anos para quem tem seguro de saúde. Após essa idade, pode custar centenas de dólares por dose [são necessárias três], o que limita o acesso. Programas como o Vaccines for Kids ajudam a ampliar a cobertura, mas ainda são insuficientes para atingir toda a população-alvo.
Sintomas do câncer anal: fique atento
Embora silencioso em muitos casos, o câncer anal pode apresentar sinais de alerta. Os principais são:
Sangramento no reto ou ânus;
Sangue nas fezes;
Dor, coceira ou caroços na região anal;
Mudança no padrão de evacuação [frequência ou consistência];
Sensação contínua de necessidade de evacuar;
Onde vacinar no DF

Locais: Unidades Básicas de Saúde [UBSs];
Público-alvo: Meninas e meninos de 9 a 14 anos;
Esquema atual: Dose única (desde 2023);
Outros públicos: Pessoas em PrEP ou com imunossupressão podem procurar o CRIE.
Fonte: Em Defesa da Saúde