Por trás das estatísticas do sistema público de saúde do Distrito Federal, uma realidade se consolida: a capital do país virou referência médica para além de suas divisas. Dados da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) mostram que, em 2024, de cada dez crianças nascidas nas unidades da rede, três vieram ao mundo em famílias residentes fora do território brasiliense.
Dos 31,5 mil partos realizados nos hospitais da rede pública neste ano, mais de 9,5 mil foram de gestantes de 16 estados diferentes — uma parcela expressiva, concentrada principalmente em Goiás (com quase 9,4 mil nascimentos), mas que inclui desde famílias do Acre até Santa Catarina. A migração por atendimento obstétrico confirma o papel do DF como centro de referência em assistência materno-infantil no país.
Esse fenômeno, no entanto, não se restringe às maternidades. O mesmo movimento de pacientes vindos de outras unidades da Federação se repete em diferentes frentes do sistema. No ano passado, das 238 mil internações feitas em hospitais da SES-DF, 20,96% foram de pessoas que moram fora do Distrito Federal. Goiás e Minas Gerais lideram os fluxos, impulsionados pela proximidade geográfica e pela oferta de serviços especializados.
Em relação às Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), o panorama também chama atenção: 18,65% das diárias ocupadas foram destinadas a pacientes de fora — ou seja, quase 29 mil das 155,2 mil registradas no período. A maior parte é atribuída novamente ao estado vizinho de Goiás, que responde por 46,5 mil internações, seguido por Minas Gerais, com 1,8 mil.
Durante o pico das doenças respiratórias sazonais, a sobrecarga é ainda mais evidente. No primeiro semestre de 2024, 28% das internações pediátricas por síndromes respiratórias agudas foram motivadas por crianças vindas de outros estados. Em muitos casos, as famílias cruzam quilômetros em busca de leitos de estabilização e UTI pediátrica — estruturas que são cada vez mais escassas em diversas regiões do país.
A alta demanda se estende também aos tratamentos de alta complexidade. Dados do portal InfoSaúde mostram que, em 2024, 14,09% das cirurgias oncológicas realizadas pela rede pública do DF foram destinadas a pacientes não residentes. O mesmo ocorre em tratamentos de insuficiência renal crônica (18,38%) e em atendimentos a doenças cerebrovasculares, como AVCs e aneurismas (13,83%).
Os números acendem um alerta para o impacto da regionalização da saúde sobre o sistema público brasiliense. Apesar de convênios e pactuações entre estados e o DF, a concentração de serviços especializados em Brasília pressiona financeiramente e estruturalmente a rede local, especialmente em períodos de maior sazonalidade, como os meses de seca ou de alta de casos de dengue e gripe.
Fonte: Mídia Alternativa